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sábado, 16 de julho de 2022

 


MARAVILHAS   DA   BEIRA   LITORAL

 

PARTE  II

 

No início de Junho deslocámo-nos até Albergaria-a-Velha para visitarmos o Festival do Pão, uma iniciativa que se realiza nesta localidade e que nos despertou a curiosidade visto que somos apreciadores de bom pão.



A fundação desta localidade data do século XII quando D. Teresa, mãe de D. Afonso Henriques, em 1117, doou estas terras ao fidalgo Gonçalo Eriz que ali recebeu a rainha numa das suas deslocações, tendo ela dito que, pelo bom acolhimento, esta terra se chamaria Albergaria. Então o fidalgo comprometeu-se a manter aberta uma albergaria para acolher os viajantes pobres. 

Esta é uma das versões que correm sobre o nome dado a esta bonita e recente cidade ( foi elevada à categoria de cidade em Abril de 2011) e que nos foi contada quando da visita que fizemos à Biblioteca pela técnica da área do turismo, que nos acompanhou.

Na foto temos a estátua de D. Teresa na Praça que tem o seu nome e onde se situa o Palacete da Boa Vista onde funciona a biblioteca. Esta construção foi considerada  a mais sumptuosa desta localidade, naquela época (início do século XX), e foi mandada construir por um particular  que, desde criança, teve a ambição de viver numa casa semelhante a um castelo.

A sala de jantar encontra-se decorada com belas pinturas saídas do atelier de Domingos Costa.

Do torreão que se encontra anexo à casa podemos apreciar uma bela paisagem e por isso foi chamada quinta da Boa Vista.

O proprietário não teve descendência e o edifício sofreu grande degradação durante alguns anos, até ser adquirida pelo município que o recuperou e ali instalou uma valiosa e útil biblioteca muito procurada por estudantes de vários graus de ensino devido ao elevado valor das obras que ali se encontram.


Um aspeto da quinta da Boa Vista onde decorreu o Festival do Pão.

Uma das pinturas que podemos observar na sala de jantar do palacete que se encontra representado ao lado esquerdo

 

 Momentos do Festival do Pão

Uma das salas da biblioteca

Jardins de Albergaria

 

Gostámos de visitar esta acolhedora cidade mas teremos que voltar um dia para fazer a Rota dos Moinhos que resolvemos deixar para mais tarde devido ao calor que se fez sentir por estes dias. A Rota dos Moinhos é de grande interesse turístico visto que, nesta região se encontram inúmeros moinhos de água, usados essencialmente para a moagem do milho e do trigo e também para o descasque do arroz produzido na região do Baixo Vouga. É ao longo do rio Caima que se encontram os moinhos mais importantes, havendo registos e vestígios de 356 moinhos. Até à data é o município da Europa com maior número de moinhos de água devidamente documentados.

 

Quando nos deslocávamos para Albergaria, passámos pela Pateira do Carregal onde pensávamos pernoitar pois tínhamos conhecimento de que era um local muito agradável. A Pateira do Carregal é um dos braços da Pateira de Fermentelos e é, na verdade, um local aprazível mas, durante a semana, muito isolado pois, apesar das boas infraestruturas que tem, é fora da povoação e mais frequentado ao fim de semana para descanso e lazer dos visitantes. Dispõe de parque de merendas, campos de jogos, parque infantil, boas sombras, torre de observação das aves, vários percursos pedestres e um pequeno café/restaurante que se encontrava encerrado. Ficámos a conhecer mas, desta vez, não ficámos.

A superfície da água encontra-se coberta por nenúfares quase na sua totalidade


Terminado o Festival do Pão seguimos em direção a S. Pedro do Sul pela N16 que, em parte do percurso nos conduziu ao longo do rio Vouga proporcionando belas paisagens.

Numa viagem sem pressas pela estrada sinuosa mas muito bonita, fomos apreciando a paisagem e as várias povoações que ora se erguiam nos frescos vales ou nas zonas mais elevadas onde o terreno era mais plano. Passámos Sever do Vouga, Vouzela e fizemos paragem em S. Pedro do Sul, nas termas.


 

Em Vouzela não pudemos parar, com bastante pena nossa, porque várias ruas andavam em obras e os percursos alternativos eram complicados para um carro como o nosso. Depois de várias tentativas em busca de estacionamento acessível, resolvemos seguir.

Como já disse, fizemos paragem nas Termas de S. Pedro do Sul, onde almoçámos. Após o almoço  passeámos tranquilamente  pelo aprazível jardim, apreciando as frondosas árvores e restante vegetação que se espelham nas águas calmas do rio, tornando aquele local tão agradável e fresco 

Este lindíssimo espaço de lazer e descanso, junto às termas de S. Pedro do Sul, é uma zona muito fresca e um bom complemento para os tratamentos termais que aqui se efetuam. Este ambiente luxuriante acolhe quase dois mil anos de História pois, embora haja vestígios de povos pré-históricos que ocuparam esta região, descobrindo os benefícios desta água, foram os romanos no séc. I os impulsionadores do seu aproveitamento terapêutico como, aliás, o fizeram noutras zonas termais do nosso país. 

Mais tarde, conta-se que D. Afonso Henriques ferido  na batalha de Badajoz, foi aqui que encontrou o repouso e o tratamento para uma fratura numa perna e outras feridas de guerra. A rainha D. Amélia e D. Manuel I também fazem parte da história destas águas milagrosas.

Enfim, aqui encontram-se reunidas todas as condições para uns dias bem passados com inúmeras vantagens para a saúde física e mental.

É vasta a oferta em hotéis e outro tipo de alojamentos, havendo também uma AS e estacionamento para autocaravanas, para estadias de curta duração.

GPS da AS:   N 40º 44' 26''      W 08º 05' 11''

 

Depois do agradável passeio pelos jardins, continuámos a nossa viagem até Vila Nova de Poiares que já conhecíamos de passagem mas onde nunca tínhamos ficado. Nesta vila, os autocaravanistas são bem vindos pois a autarquia criou uma excelente área de estacionamento, pernoita e serviços para que possamos visitar a localidade sem preocupação. A área é muito acessível e funcional, além de estar muito perto do centro onde se encontram os principais monumentos, restaurantes, comércio e serviços. Gostámos muito desta povoação onde temos que felicitar a autarquia pela limpeza das ruas, jardins e todos os espaços públicos. 

Edifício da Câmara Municipal em estilo neoclássico, é coroado por um frontão triangular com as armas do rei D. Luís. Ao longo dos anos tem sofrido obras de restauro mas mantém a traça original.


''Vila Nova de Poiares - Acção - Trabalho - Vida - Solidariedade - Amor, em Liberdade''

Pintura mural alusiva à estrada nacional 2 - N2 - que serve esta localidade e que, como sabemos, cruza Portugal de Norte a Sul.

Paços do Concelho e Jardim Municipal. A construção deste jardim foi custeada por um benemérito da terra nas primeiras décadas do século XX. Algumas das árvores do jardim foram trazidas das matas do Buçaco.

Monumento "O Cristo", surpreende pela sua dimensão e pela localização no topo de uma escadaria que conduz a um dos pontos mais elevados da vila, em plena zona central.

Igreja matriz, tendo como padroeiro Santo André, é um edifício sóbrio com uma torre sineira onde se encontra um relógio de sol datado de 1744 embora, no interior da igreja se encontre uma data anterior no arco do corpo da igreja - 1684 - o que nos indica que as primitivas edificações seriam dessa data. O retábulo central é do século XVII.

No interior da igreja (à esquerda) encontra-se um mausoléu de arquitetura neoclássica atribuído ao humanista José Vicente Gomes de Moura.

A área de estacionamento e serviços para autocaravanas, espaçosa, de fácil acesso e com localização perto do centro da vila, é uma recente obra da autarquia  que procura bem receber quem a visita. Em toda a vila, a limpeza é uma constante e, aqui, não é exceção. Exemplos destes são de louvar e trazem mais valias à terra.

Sendo V. N. de Poiares a capital da chanfana, não podíamos deixar de saborear este prato da nossa gastronomia, que apreciamos. Fizemo-lo na Taberna de Poyares, no seu espaço de esplanada, ali bem no centro da vila e com vista privilegiada para o jardim e zona central. Comida saborosa e atendimento com muita simpatia.

 

De V. N. de Poiares seguimos para Figueiró do Vinhos, passando pela Lousã. Numa viagem sem pressa porque a estrada não o permitia mas também por não ser esse o motivo que nos movia a fazer este percurso, atravessámos a lindíssima Serra da Lousã, apreciando a belíssima paisagem que nos era dado disfrutar. É difícil descrever o que sentimos durante o trajeto, entre a ansiedade de descobrir o que encontrávamos para lá de cada curva (a estrada é estreita e sinuosa mas o piso é bom) e o deslumbramento da paisagem, tudo isso nos proporcionava uma sensação inesquecível. 

A Serra da Lousã encontra-se no centro de Portugal e faz parte do maciço central juntamente com as serras da Estrela e do Açor. Esta serra é rica em vegetação, havendo aqui uma junção entre a vegetação atlântica e a mediterrânica, criando uma diversidade de ambientes paisagísticos habitat de eleição para a fauna abundante que ali podemos encontrar. Integradas nesta extraordinária paisagem natural, encontram-se várias aldeias de xisto, pedras vivas de memórias ancestrais que nos transmitem uma história de usos e costumes que não devemos esquecer porque fazem parte da alma do povo português.

Há vários roteiros e percursos que nos conduzem a esses lugares que são de uma beleza incalculável mas ficarão para uma outra viagem.

Durante o percurso entrámos num pequeno troço que não era alcatroado, mas muito bonito. Com velocidade um pouco mais reduzida, fez-se sem dificuldade.

A vertente sul da serra foi vítima de incêndios nos últimos anos e, por isso, a vegetação é menor. Ainda andam a fazer trabalhos de limpeza o que é indispensável para  que este património natural não fique comprometido.

Aqui, os espaços também são mais abertos , vamos perdendo altitude e o olhar alonga-se a maiores distâncias.

A serra ia ficando para trás e as povoações apareciam com mais frequência. Passámos por Castanheira de Pera e a sua praia das Rocas mas o nosso destino era Figueiró e foi para lá que nos dirigimos. Ficámos no estacionamento para ACs junto ao pavilhão desportivo e às piscinas. É um local sossegado e agradável, perto do centro, onde já ficámos várias vezes.

Um pequeno passeio pela vila com paragem numa esplanada do centro para tomar uma refrescante bebida e descansar um pouco e depois regresso à AC para jantar e passar a noite.

 

Na manhã seguinte fomos visitar o Casulo de Malhoa visto que não o pudemos fazer na anterior passagem, por estar fechado.

O Casulo de Malhoa é a casa onde o pintor José Malhoa viveu os últimos anos da sua vida e onde faleceu em Outubro de !933.  Inicialmente a casa tinha apenas uma divisão de piso térreo com dimensões tão pequenas que ele lhe chamava "O Casulo". Alguns anos após ter conhecido Figueiró e de se ter apaixonado pela beleza da paisagem, pela imensidão dos horizontes, a cor dos campos e os costumes, descobriu modelos para o seu projeto artístico e  mandou construir a casa atual segundo o modelo de um seu amigo que era arquiteto. No interior da casa não se encontra mobiliário, à excepção da sala de jantar onde se encontra a mesa e pouco mais. É de destacar o revestimento das paredes em pergamoide, imitando couro lavrado e sobre as portas encontram-se frisos floridos pintados a óleo. O teto, em madeira, apresenta pequenos nichos que teriam pequenas obras de pintores amigos, entretanto desaparecidas.

O pintor José Malhoa é natural das Caldas da Rainha e foi pioneiro do Naturalismo em Portugal. É o autor de grandes obras da pintura portuguesa tendo feito exposições em vários países. Gostámos de visitar esta sua casa e de conhecer um pouco mais da sua história.

Na cave do edifício encontra-se uma coleção de jogos de xadrez originários de várias partes do mundo, alguns muito originais.

Terminada a visita dirigimo-nos à AC e seguimos para Foz de Alge onde ficámos no Parque de Campismo.

Passámos dois dias a descansar no parque e a disfrutar de toda a beleza natural que ali encontramos, só é pena que o nível da água se encontre tão baixo e que a seca se mantenha, anunciando um verão quente e seco.

Regressámos a casa com a alma plena de satisfação e ansiando já pela próxima saída.

 

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