DE PORTEL A MOURA
20º ENCONTRO A.N.A.
22 A 25 DE ABRIL DE 2022
Em finais de Abril viajámos até Portel para participar num encontro de autocaravanistas realizado pela A.N.A. (Associação Nacional de Autocaravanistas), da qual somos sócios por nos identificarmos com os valores que esta associação defende.
Chegados a Portel dirigimo-nos à ASA, situada junto aos bombeiros, onde já se encontravam vários companheiros que gostámos de rever e outros que ainda não conhecíamos. Devido ao reduzido número de lugares para um encontro desta dimensão, os bombeiros cederam espaço nas suas instalações (mesmo ao lado) e ali ficámos muito bem instalados.
No dia 22 à tarde, foi feita a recepção aos participantes com esclarecimentos sobre o programa, um pequeno lanche e entrega de lembranças.
No dia seguinte cerca das 10h da manhã, encontrámo-nos com a Dra. Eugénia, a guia turística que a CM de Portel nos disponibilizou e que com muito entusiasmo nos conduziu pelos locais mais emblemáticos da vila transmitindo o seu vasto conhecimento na matéria.
Iniciámos pelo Parque da Matriz, assim chamado por ficar junto da igreja matriz. É um amplo parque relvado e arborizado, ótimo para uns momentos de descanso e lazer. Ficámos a saber que Portel dispõe de outros jardins espalhados pela vila, também agradáveis como este e bem cuidados.
Seguimos para a Praça D. Nuno Álvares Pereira onde se encontra uma estátua equestre do mesmo e aí ouvimos as explicações da nossa guia sobre a história desta vila que tem no seu imponente castelo a imagem de marca para quem se desloca por estas terras alentejanas.
Aqui temos a estátua de D. Nuno em frente ao edifício dos Paços do Concelho, uma homenagem do povo de Portel ao alcaide destas terras no reinado de D. João I. Ficámos a saber, pela explicação dada que, durante a crise de 1383-1385, entre Portugal e Castela, pelo direito ao trono de Portugal, o alcaide de Portel era partidário do rei de Castela, tendo a vila voltado para a posse da coroa portuguesa por ação de D. Nuno Álvares Pereira. Como recompensa, D. João I concedeu-lhe estas terras, juntamente com os rendimentos.
Visitámos, a seguir, a capela de Santo António que foi oratório particular dos religiosos da Ordem Terceira e agora funciona como galeria de arte.
No seu espaço interior, as paredes encontram-se decoradas com azulejos da 2ª metade do séc. XVII e a cúpula apresenta uma pintura decorativa.
Daqui, seguimos para o castelo cujo interior não foi possível visitar por se encontrar em obras de reabilitação. Visitámos, no entanto, toda a sua muralha exterior e o Centro de Interpretação, muito interessante pelas explicações dadas, bem complementadas graficamente.
Capela da Misericórdia
Aspeto da entrada para o interior da muralha e Centro de Interpretação
Lá do alto temos uma vista abrangente sobre a povoação
Depois, descemos a encosta do castelo pelo lado oposto àquele por onde subimos e fomos visitar o Pavilhão temático "A Bolota", um espaço de conhecimento sobre o tema do Montado, a funcionar nas instalações do antigo matadouro municipal com uma recuperação muito bem conseguida e onde, através dos sentidos, nos é proporcionada a compreensão e a valorização da paisagem característica desta região.
Reconstituição da vila de Portel e seu castelo feita em cortiça por um antigo artesão desta vila.
Nestas peças de artesanato encontramos muitos objetos e cenas do quotidiano das gentes desta região alentejana, todas elas realizadas com material do montado.
Atualmente, a cortiça tem as mais variadas aplicações, até mesmo no vestuário.
Terminámos assim a nossa visita a Portel e, após o almoço, seguimos para Moura com uma paragem para visita no Museu do Medronho em Alqueva.
Durante a visita foram-nos dadas todas as informações sobre o processo de fabrico desta bebida, seguida de uma degustação. O museu dispõe de uma loja onde pudemos adquirir alguns produtos típicos da região.
De novo a caminho de Moura, passámos sobre o paredão da barragem onde fizemos uma paragem para observar a paisagem que o Grande Lago nos proporciona e fazer algumas fotos em mais uns momentos de agradável convívio.
Sobre o azul vibrante das águas, um enorme tapete de painéis solares constitui a nova central fotovoltaica que irá funcionar a partir de Julho. Dizem que será a maior central fotovoltaica flutuante, da Europa, colocada numa barragem hidroelétrica. Tem 12000 painéis, ocupando uma área equivalente a 4 campos de futebol.
Depois desta pausa, continuámos para Moura, seguindo as ACs em 3 grupos para não perturbar o trânsito. Ficámos instalados no Complexo de Feiras e Exposições, cedido pela Câmara para aí podermos pernoitar com toda a tranquilidade.
No sábado, logo pela manhã, dirigimo-nos ao Lagar de Varas do Fojo, onde nos esperava a Dra. Marisa, uma excelente comunicadora que, com a sua simpatia, boa disposição e conhecimento logo captou as atenções do grupo sempre interessado nas suas explicações e curiosas estórias.
O Lagar de Varas do Fojo é um fiel testemunho do fabrico artesanal do azeite, nos séculos passados. Trata-se de um antigo lagar comunitário, que trabalhava "à maquia", ou seja, qualquer pessoa que tivesse azeitona podia trazê-la a este lagar para ser transformada em azeite, deixando em compensação uma parte desse azeite ao dono do lagar, como pagamento.
O processo de fabrico evoluiu do sistema romano, tendo este lagar laborado durante um século, precisamente de 1841 a 1941. Foi considerado imóvel de interesse público. Conserva ainda a maquinaria original e, pela voz da Dra. Marisa ficámos a conhecer o modo de funcionamento do lagar mas também o quotidiano do lagareiro e de como era a vida dentro lagar durante o tempo de laboração.
Nesta espécie de tanques era depositada a azeitona dos vários produtores esperando a sua vez de ser transformada em azeite.
Aqui a azeitona era moída com a ajuda destas mós que eram movidas com a ajuda de animais (burros ou mulas). A pasta que se formava era depois transportada para outra divisão onde era metida em ceiras que, depois de colocadas nas prensas, eram apertadas ao máximo e delas saía o precioso líquido cor de ouro a que chamamos azeite.
Era com ajuda destas prensas, manobradas pela força humana, que se extraía o azeite pelo processo que os romanos nos transmitiram.
Terminada a visita ao lagar fomos visitar o Jardim das Oliveiras que fica mesmo em frente
e onde nos é apreciar algumas variedades de oliveiras, havendo exemplares com centenas de anos. Este espaço lúdico pedagógico foi criado com o intuito de promover a olivicultura como uma das atividades mais importantes da região. Aqui podemos encontrar, também, várias espécies de ervas aromáticas que são um elemento indispensável na gastronomia alentejana, tão peculiar em aromas e sabores, assim como algumas plantas medicinais.
No seguimento da nossa visita pelas ruas de Moura fomos apreciando alguns jardins que se encontram espalhados pela vila, bonitas fachadas que ainda conservam a traça original e alguns dos edifícios mais emblemáticos da vila.
Esta é a igreja pertencente ao Convento da Ordem Hospitaleira de S. João de Deus. O convento está desativado mas nas suas instalações funciona o hotel de Moura. O jardim das oliveiras foi criado no pátio do antigo convento.
Na praça Sacadura Cabral podemos observar a Torre do Relógio, partes da muralha , a Fonte das 3 Bicas e o Jardim das termas.
Termas de Moura
O jardim Dr. Santiago ou jardim das termas é um local muito aprazível onde se pode descansar e comtemplar a vasta paisagem dos campos em redor. À entrada do jardim ficam as termas de Moura visto que as águas que têm a sua nascente nesta zona, são reconhecidas como águas medicinais pelas suas propriedades terapêuticas.Ficámos a saber, também, que a conhecida e apreciada Água do Castelo, tem aqui a sua origem, sendo a nascente na cerca do castelo, daí o nome que lhe foi atribuído.
Igreja e ruínas do antigo convento no interior da cerca do castelo.
A Torre do Relógio e a Fonte das 2 Bicas
Torre de menagem do castelo de Moura
O castelo de Moura é considerado Imóvel de Interesse Público a partir de 27 de março de 1944. Ao longo da nossa história foi palco de vários episódios no sentido da reconquista cristã destes territórios e, posteriormente, da sua manutenção, criando estruturas de apoio para defesa das gentes e das terras que lhe pertenciam. Ao longo das várias guerras em que Portugal se viu envolvido com Castela, foi sofrendo obras de reforço das defesas. No séc. XVII, no contexto da Guerra da Restauração, D. João IV determinou a modernização da antiga fortificação, dada a sua posição estratégica na fronteira com Espanha. No interior da cerca do castelo encontra-se a Torre de Menagem, a Torre do Relógio e o convento feminino de S. Domingos, mandado construir por D. Ângela de Moura em 1562, sobre as fundações da antiga mesquita.
Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Brasão de
Moura, com a torre e a moura Salúquia morta.
A lenda da Moura Salúquia está ligada à designação actual da cidade de Moura.
Segundo a lenda, a princesa Salúquia, filha de Abu-Hassan e governadora da cidade, apaixonou-se por Bráfama, alcaide mouro de Aroche. Na véspera do matrimónio, Bráfama dirigiu-se com uma comitiva para Al-Manijah, a dez léguas de distância. Mas todo o território alentejano a norte e oeste tinha já sido conquistado pelos cristãos e a jornada revelava-se perigosa.
Entretanto, D. Afonso Henriques encarregara dois fidalgos, os irmãos Álvaro Rodrigues e Pedro Rodrigues, de conquistar a cidade de Moura. Estando ao corrente dos preparativos matrimoniais que aí se desenrolavam, os irmãos emboscaram-se num olival perto dos limites da povoação. Surpreendidos pela ação dos cavaleiros cristãos, a comitiva de Aroche foi facilmente derrotada, e Bráfama foi morto.
Disfarçando-se com as vestes dos representantes muçulmanos, os fidalgos cristãos dirigiram-se para a cidade. Salúquia estava no alto da torre do castelo, onde aguardava a chegada do seu noivo. Vendo aproximar-se um grupo de cavaleiros aparentemente islâmicos, a princesa julgou que se tratava da comitiva de Aroche, ao que ordenou que lhes franqueassem as portas da fortificação.
Mas mal transpuseram a muralha, os cristãos lançaram-se sobre os defensores da cidade, tomados de surpresa, e conquistaram o castelo. Salúquia apercebeu-se então do erro que tinha cometido e, ferida pela certeza da morte de Bráfama, tomou as chaves da cidade e precipitou-se da torre onde se encontrava.
Comovidos pela história de amor que os sobreviventes islâmicos lhes contaram, os irmãos Rodrigues teriam renomeado a cidade para Terra da Moura Salúquia. O tempo encarregar-se-ia de transformar esta designação para Terra da Moura, até que evoluíu para a actual forma de Moura.
A uma torre de taipa do Castelo de Moura ainda hoje se chama a Torre de Salúquia, e a um olival nas proximidades de Moura, aquele onde supostamente teriam sido emboscados Bráfama e a sua comitiva, o povo chama Bráfama de Aroche.
Nas armas da cidade figura, uma moura morta no chão, com uma torre em segundo plano, numa alusão à lenda da Moura Salúquia.
Continuando pelas ruas de Moura, passagem pelo Bairro da Mouraria e suas ruas floridas para visita à Casa dos Poços onde pudemos observar 3 bocais de poços, em cerâmica, com origem no período islâmico.
Após o almoço numa das esplanadas da praça Sacadura Cabral, foi hora de visitar os locais em falta no roteiro que tinha sido definido pela organização do encontro .
Começámos pela Galeria do Espírito Santo, em seguida, o Museu Alberto Gordillo e, por fim, o Museu de Arqueologia
O Museu Alberto Gordillo é um museu de joalharia contemporânea criado em 2011 com uma vasta coleção de joias doadas pelo joalheiro à cidade de Moura, sua terra natal. Foi o pioneiro da joalharia moderna portuguesa, o mais premiado e mencionado em publicações e o que mais exposições realizou. As suas peças refletem um vanguardismo inusitado na época em que começou a distinguir-se, não só pela originalidade das peças como também dos materiais.
O Museu Municipal de Moura ou Museu de Arqueologia está a funcionar nas instalações de um antigo matadouro já desativado e adaptado para o efeito. É um museu com uma importante coleção de arqueologia que documenta esta região desde a Pré-história até à Idade Moderna. Nele encontramos peças muito interessantes que nos permitem conhecer melhor a história desta região.
Terminadas as visitas, cada um dispôs do resto do dia para fazer o que lhe apetecesse. Assim sendo, petiscámos numa esplanada de uma casa típica que nos ficava no caminho para o parque do centro de exposições onde tínhamos a AC e descansámos as pernas que já acusavam um pouco de cansaço...😓. À meia-noite houve fogo de artifício que deu início às comemorações do 25 de Abril.
.No dia 25 foi tempo de despedidas e cada um seguiu o seu caminho. Nós, como estávamos perto de uma zona que queríamos conhecer melhor (Vidigueira e arredores), foi para lá que nos dirigimos mas isso contarei no próximo post com o título " NA ROTA DO VINHO DA TALHA"
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