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sexta-feira, 8 de julho de 2022


   NA   ROTA   DO   VINHO   DA   TALHA

Aproveitando o facto de estarmos nesta região, quando da visita a Portel e a Moura, não quisemos desperdiçar a oportunidade de a conhecer melhor e, por isso, de Moura seguimos para a Vidigueira, vila pertencente ao distrito de Beja onde ainda hoje são visíveis vestígios dos povos que por lá passaram deixando os seus usos e os seus saberes.
De todos estes vestígios, os mais importantes são as ruínas romanas de S. Cucufate, um impressionante conjunto arquitetónico que é exemplar único na Península Ibérica. Estas ruínas constituíam um complexo habitacional e agrícola formado por mansão, termas, um templo e a zona de produção agrícola e datam da época da ocupação romana da Península Ibérica.




Os edifícios foram sofrendo obras de ampliação ao longo de vários períodos da história, o que é visível pelos tipos de materiais usados e o processo de construção.




Igreja do Mosteiro mais recente, sendo visível uma pequena pia de água benta perto da porta de entrada
A igreja foi construída nas instalações do antigo celeiro e adega da mansão romana.

A antiga casa romana foi, mais tarde, ocupada por dois mosteiros cristãos dedicados a S. Cucufate, fundados em períodos diferentes e cada um com a sua própria igreja construída dentro das ruínas. Segundo estudos efetuados, o primeiro mosteiro terá sido construído entre os séc. IX e X , durante a época islâmica e depois abandonado no séc. XII , quando da reconquista cristã. O segundo mosteiro terá sido fundado no séc. XIII, num processo de repovoamento da região após a Reconquista, implementado por D. Afonso III.
Este sítio arqueológico ocupa uma extensa área, no topo de uma elevação de terreno que, apesar da sua reduzida altitude, permitia controlar a planície em redor, sobretudo para sul. No período romano este sítio estava afastado das povoações, mas situado perto de um importante cruzamento de vias.




Zona das termas onde ainda é visível o sistema de aquecimento das águas.
    
             

Foi uma visita muito interessante e que nos permitiu conhecer melhor a história desta região. Este sítio arqueológico fica a cerca de 1 Km de Vila de Frades, povoação que deve o seu nome aos frades que vieram povoar esta região onde se encontra uma harmonia perfeita entre a serra, a planície e o rio, conferindo-lhe as características essenciais para culturas diversificadas. Aqui podemos encontrar campos de cereais, vinhas, olivais, hortas, laranjais, a par com o montado. 



Em Vila de Frades encontrámos uma povoação muito harmoniosa com ruas limpas, casas bem cuidadas de uma brancura impecável que as torna luminosas e adornadas com as barras coloridas, tipicamente alentejanas. Algumas casas burguesas com bonitos gradeamentos de ferro nas janelas, muita simpatia das gentes e uma calma e uma paz que nos encanta.
 Em quase todas as ruas encontramos velhas adegas, muitas ainda a uso ou transformadas em estabelecimentos de restauração ou não fosse esta a capital do vinho da talha e onde o precioso néctar é feito pelo método transmitido pelos romanos há cerca de 2000 anos.
Visitámos o Centro Interpretativo do Vinho da Talha, um espaço museológico onde somos convidados a descobrir todas as fases da produção do vinho, os cheiros, os sons da vinha, as paisagens, os provérbios, o cante, a vida das gentes, os objetos usados, tudo isto que forma a essência e a alma do vinho da talha.




Reconstituição de uma taberna onde, ao fim do dia de trabalho, os homens faziam uma paragem para uns momentos de lazer e de convívio.





Vila de Frades fica a cerca de 2 Km da Vidigueira, ligadas por caminhos campestres de grande beleza que nos encantou percorrer.  




Resolvemos ir ficar à Vidigueira num parque perto das piscinas, com boas sombras e muito tranquilo. No dia seguinte fomos conhecer melhor a vila visto que na véspera foi só de passagem e aquilo que vimos tinha-nos despertado a curiosidade de conhecer melhor. Confesso que a visita foi uma agradável surpresa  e, se tivermos oportunidade, será um destino que repetiremos um dia.





Espaço museológico na Adega Cooperativa da Vidigueira, Cuba e Alvito, dedicado ao vinho da talha.




O Museu Municipal localiza-se nas instalações da antiga escola primária Vasco da Gama, na praça com o mesmo nome onde também se encontra uma estátua do navegador. O antigo edifício foi remodelado e adaptado a espaço museológico, num projeto muito bem conseguido, organizado em dois núcleos. No primeiro é retratada a história do concelho, desde a inauguração do edifício da Escola em 1884 até ao final da sua utilização como estabelecimento de ensino em 1991. 
O segundo dá-nos uma visão da vida económica das décadas de 30 e seguintes, através dos ofícios, comércio, agricultura e indústria do concelho.
Foi muito agradável visitar este espaço que nos fez ativar memórias de tempos que vivemos e o recordar de factos, de objetos, profissões, vivências, usos e costumes que fazem parte da nossa história de vida e que hoje já foram substituídos por outras técnicas .

Sala de aula do século passadp

Curioso este texto escrito no jornal "O Século" em 1927 que nos transmite um pouco da mentalidade da época, em relação à cultura. Aquilo que, para nós, é um bem indispensável, no início do século passado era considerado privilégio de alguns "iluminados" que se achavam num patamar superior. Felizmente nem toda a sociedade partilhava estas ideias  e a fundação desta escola em 1884, é uma prova disso mesmo.

Objetos e imagens relacionados com a vida feminina, no passado, com distinção de classes sociais.

Neste recanto encontramos é dedicado à vida masculina, usos e objetos para higiene pessoal


Reconstituição de uma barbearia vendo-se, na foto de baixo, os objetos usados neste ofício



Trajos usados pelas camponesas e um modelo de grade de bicos, puxada por animais e usada para destorroar a terra, depois de lavrada, de modo a ficar preparada para semear. 

Reconstituição de uma "loja" daquele tempo. Aqui se vendiam mercearias, tecidos, loiças, enfim, tudo o que era necessário para a vida de cada dia.

O fabrico do pão


Medidas usadas para todas as substâncias

Oficina de sapateiro

Oficina de alfaiate

Cerâmica artesanal


Fabrico do azeite

Fabrico do vinho e aguardente

Oficina de latoaria


Jardim no centro da vila com uma agradável alameda onde podemos passear e descansar nos vários bancos dispostos junto às árvores.

Almoçámos  num  dos restaurantes da vila:  uma agradável  sopa de cação que estava uma delícia, seguida de um ensopado de borrego como só no Alentejo conseguimos comer. Acompanhámos a refeição com um vinho da talha que nos soube muito bem. Indagámos a origem e soubemos que era de uma adega em Cuba que poderia ser visitada.
De tarde, assim fizemos. Dirigimo-nos a Cuba e fomos visitar a adega.







Percorridos os cerca de 13 km que separam Vidigueira de Cuba, dirigimo-nos à quinta onde se situa uma das mais importantes adegas que fabricam este vinho. Ultrapassado o portão de entrada seguimos por uma estrada ladeada de vinhas que, nesta altura do ano, já se encontrava bem composta de folhagem, formando um lindo manto verde.
Fomos muito bem recebidos pelo proprietário que nos levou a visitar a adega e nos deu todas as explicações em relação a este processo milenar de fabrico de vinho. Para terminar adquirimos algumas garrafas pois foi esse um dos motivos que lá nos levou por temos apreciado tanto o vinho do almoço.
Foi uma tarde muito agradável para terminar a nossa  "Rota do vinho da talha". 
Regressámos a casa com a satisfação de uns dias bem passados e pensando qual será o próximo destino. 








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