MARAVILHAS DA BEIRA LITORAL
PARTE
II
No início de Junho deslocámo-nos até
Albergaria-a-Velha para visitarmos o Festival do Pão, uma iniciativa que se
realiza nesta localidade e que nos despertou a curiosidade visto que somos
apreciadores de bom pão.
A fundação desta localidade data do século XII quando D. Teresa, mãe de D.
Afonso Henriques, em 1117, doou estas terras ao fidalgo Gonçalo Eriz que ali
recebeu a rainha numa das suas deslocações, tendo ela dito que, pelo bom
acolhimento, esta terra se chamaria Albergaria. Então o fidalgo comprometeu-se
a manter aberta uma albergaria para acolher os viajantes pobres.
Esta é uma das versões que correm sobre o nome dado a esta bonita e recente
cidade ( foi elevada à categoria de cidade em Abril de 2011) e que nos foi
contada quando da visita que fizemos à Biblioteca pela técnica da área do
turismo, que nos acompanhou.
Na foto temos a estátua de D. Teresa na Praça que tem o seu nome e onde se
situa o Palacete da Boa Vista onde funciona a biblioteca. Esta construção foi
considerada a mais sumptuosa desta localidade, naquela época (início
do século XX), e foi mandada construir por um particular que, desde
criança, teve a ambição de viver numa casa semelhante a um castelo.
A sala de jantar encontra-se decorada com belas pinturas saídas do atelier
de Domingos Costa.
Do torreão que se encontra anexo à casa podemos apreciar uma bela paisagem
e por isso foi chamada quinta da Boa Vista.
O proprietário não teve descendência e o edifício sofreu grande degradação
durante alguns anos, até ser adquirida pelo município que o recuperou e ali
instalou uma valiosa e útil biblioteca muito procurada por estudantes de vários
graus de ensino devido ao elevado valor das obras que ali se encontram.
Um aspeto da quinta da Boa Vista onde decorreu o Festival do Pão.
Uma das pinturas que podemos observar na sala de jantar do palacete que se
encontra representado ao lado esquerdo
Momentos do Festival do Pão
Uma das salas da biblioteca
Jardins de Albergaria
Gostámos de visitar esta acolhedora cidade mas teremos que voltar um dia
para fazer a Rota dos Moinhos que resolvemos deixar para mais tarde devido ao
calor que se fez sentir por estes dias. A Rota dos Moinhos é de grande
interesse turístico visto que, nesta região se encontram inúmeros moinhos de
água, usados essencialmente para a moagem do milho e do trigo e também para o
descasque do arroz produzido na região do Baixo Vouga. É ao longo do rio Caima
que se encontram os moinhos mais importantes, havendo registos e vestígios de
356 moinhos. Até à data é o município da Europa com maior número de moinhos de
água devidamente documentados.
Quando nos deslocávamos para Albergaria, passámos pela Pateira do Carregal
onde pensávamos pernoitar pois tínhamos conhecimento de que era um local muito
agradável. A Pateira do Carregal é um dos braços da Pateira de Fermentelos e é,
na verdade, um local aprazível mas, durante a semana, muito isolado pois,
apesar das boas infraestruturas que tem, é fora da povoação e mais frequentado
ao fim de semana para descanso e lazer dos visitantes. Dispõe de parque de
merendas, campos de jogos, parque infantil, boas sombras, torre de observação
das aves, vários percursos pedestres e um pequeno café/restaurante que se
encontrava encerrado. Ficámos a conhecer mas, desta vez, não ficámos.
A superfície da água encontra-se coberta por nenúfares quase na sua
totalidade
Terminado o Festival do Pão seguimos em direção a S. Pedro do Sul pela N16
que, em parte do percurso nos conduziu ao longo do rio Vouga proporcionando
belas paisagens.
Numa viagem sem pressas pela estrada sinuosa mas muito bonita, fomos
apreciando a paisagem e as várias povoações que ora se erguiam nos frescos
vales ou nas zonas mais elevadas onde o terreno era mais plano. Passámos Sever
do Vouga, Vouzela e fizemos paragem em S. Pedro do Sul, nas termas.
Em Vouzela não pudemos parar, com bastante pena nossa, porque várias ruas
andavam em obras e os percursos alternativos eram complicados para um carro
como o nosso. Depois de várias tentativas em busca de estacionamento acessível,
resolvemos seguir.
Como já disse, fizemos paragem nas Termas de S. Pedro do Sul, onde
almoçámos. Após o almoço passeámos tranquilamente pelo aprazível
jardim, apreciando as frondosas árvores e restante vegetação que se espelham
nas águas calmas do rio, tornando aquele local tão agradável e fresco
Este lindíssimo espaço de lazer e descanso, junto às termas de S. Pedro do
Sul, é uma zona muito fresca e um bom complemento para os tratamentos termais
que aqui se efetuam. Este ambiente luxuriante acolhe quase dois mil anos de
História pois, embora haja vestígios de povos pré-históricos que ocuparam esta
região, descobrindo os benefícios desta água, foram os romanos no séc. I os
impulsionadores do seu aproveitamento terapêutico como, aliás, o fizeram
noutras zonas termais do nosso país.
Mais tarde, conta-se que D. Afonso Henriques ferido na batalha de
Badajoz, foi aqui que encontrou o repouso e o tratamento para uma fratura numa
perna e outras feridas de guerra. A rainha D. Amélia e D. Manuel I também fazem
parte da história destas águas milagrosas.
Enfim, aqui encontram-se reunidas todas as condições para uns dias bem
passados com inúmeras vantagens para a saúde física e mental.
É vasta a oferta em hotéis e outro tipo de alojamentos, havendo também uma
AS e estacionamento para autocaravanas, para estadias de curta duração.
GPS da AS: N 40º 44' 26'' W 08º 05' 11''
Depois do agradável passeio pelos jardins, continuámos a nossa viagem até
Vila Nova de Poiares que já conhecíamos de passagem mas onde nunca tínhamos
ficado. Nesta vila, os autocaravanistas são bem vindos pois a autarquia criou
uma excelente área de estacionamento, pernoita e serviços para que possamos
visitar a localidade sem preocupação. A área é muito acessível e funcional,
além de estar muito perto do centro onde se encontram os principais monumentos,
restaurantes, comércio e serviços. Gostámos muito desta povoação onde temos que
felicitar a autarquia pela limpeza das ruas, jardins e todos os espaços
públicos.
Edifício da Câmara Municipal em estilo neoclássico, é coroado por um
frontão triangular com as armas do rei D. Luís. Ao longo dos anos tem sofrido
obras de restauro mas mantém a traça original.
''Vila Nova de Poiares - Acção - Trabalho - Vida - Solidariedade - Amor, em
Liberdade''
Pintura mural alusiva à estrada nacional 2 - N2 - que serve esta localidade
e que, como sabemos, cruza Portugal de Norte a Sul.
Paços do Concelho e Jardim Municipal. A construção deste jardim foi
custeada por um benemérito da terra nas primeiras décadas do século XX. Algumas
das árvores do jardim foram trazidas das matas do Buçaco.
Monumento "O Cristo", surpreende pela sua dimensão e pela
localização no topo de uma escadaria que conduz a um dos pontos mais elevados
da vila, em plena zona central.
Igreja matriz, tendo como padroeiro Santo André, é um edifício sóbrio com
uma torre sineira onde se encontra um relógio de sol datado de 1744 embora, no
interior da igreja se encontre uma data anterior no arco do corpo da igreja -
1684 - o que nos indica que as primitivas edificações seriam dessa data. O
retábulo central é do século XVII.
No interior da igreja (à esquerda) encontra-se um mausoléu de arquitetura
neoclássica atribuído ao humanista José Vicente Gomes de Moura.
A área de estacionamento e serviços para autocaravanas, espaçosa, de fácil
acesso e com localização perto do centro da vila, é uma recente obra da
autarquia que procura bem receber quem a visita. Em toda a vila, a
limpeza é uma constante e, aqui, não é exceção. Exemplos destes são de louvar e
trazem mais valias à terra.
Sendo V. N. de Poiares a capital da chanfana, não podíamos deixar de
saborear este prato da nossa gastronomia, que apreciamos. Fizemo-lo na Taberna
de Poyares, no seu espaço de esplanada, ali bem no centro da vila e com vista
privilegiada para o jardim e zona central. Comida saborosa e atendimento com
muita simpatia.
De V. N. de Poiares seguimos para Figueiró do Vinhos, passando pela Lousã.
Numa viagem sem pressa porque a estrada não o permitia mas também por não ser
esse o motivo que nos movia a fazer este percurso, atravessámos a lindíssima
Serra da Lousã, apreciando a belíssima paisagem que nos era dado disfrutar. É
difícil descrever o que sentimos durante o trajeto, entre a ansiedade de
descobrir o que encontrávamos para lá de cada curva (a estrada é estreita e
sinuosa mas o piso é bom) e o deslumbramento da paisagem, tudo isso nos
proporcionava uma sensação inesquecível.
A Serra da Lousã encontra-se no centro de Portugal e faz parte do maciço
central juntamente com as serras da Estrela e do Açor. Esta serra é rica em
vegetação, havendo aqui uma junção entre a vegetação atlântica e a
mediterrânica, criando uma diversidade de ambientes paisagísticos habitat de
eleição para a fauna abundante que ali podemos encontrar. Integradas nesta
extraordinária paisagem natural, encontram-se várias aldeias de xisto, pedras
vivas de memórias ancestrais que nos transmitem uma história de usos e costumes
que não devemos esquecer porque fazem parte da alma do povo português.
Há vários roteiros e percursos que nos conduzem a esses lugares que são de
uma beleza incalculável mas ficarão para uma outra viagem.
Durante o percurso entrámos num pequeno troço que não era alcatroado, mas
muito bonito. Com velocidade um pouco mais reduzida, fez-se sem dificuldade.
A vertente sul da serra foi vítima de incêndios nos últimos anos e, por
isso, a vegetação é menor. Ainda andam a fazer trabalhos de limpeza o que é
indispensável para que este património natural não fique comprometido.
Aqui, os espaços também são mais abertos , vamos perdendo altitude e o
olhar alonga-se a maiores distâncias.
A serra ia ficando para trás e as povoações apareciam com mais frequência.
Passámos por Castanheira de Pera e a sua praia das Rocas mas o nosso destino
era Figueiró e foi para lá que nos dirigimos. Ficámos no estacionamento para
ACs junto ao pavilhão desportivo e às piscinas. É um local sossegado e
agradável, perto do centro, onde já ficámos várias vezes.
Um pequeno passeio pela vila com paragem numa esplanada do centro para
tomar uma refrescante bebida e descansar um pouco e depois regresso à AC para
jantar e passar a noite.
Na manhã seguinte fomos visitar o Casulo de Malhoa visto que não o pudemos
fazer na anterior passagem, por estar fechado.
O Casulo de Malhoa é a casa onde o pintor José Malhoa viveu os últimos anos
da sua vida e onde faleceu em Outubro de !933. Inicialmente a casa tinha
apenas uma divisão de piso térreo com dimensões tão pequenas que ele lhe
chamava "O Casulo". Alguns anos após ter conhecido Figueiró e de se
ter apaixonado pela beleza da paisagem, pela imensidão dos horizontes, a cor
dos campos e os costumes, descobriu modelos para o seu projeto artístico
e mandou construir a casa atual segundo o modelo de um seu amigo que era
arquiteto. No interior da casa não se encontra mobiliário, à excepção da sala
de jantar onde se encontra a mesa e pouco mais. É de destacar o revestimento
das paredes em pergamoide, imitando couro lavrado e sobre as portas
encontram-se frisos floridos pintados a óleo. O teto, em madeira, apresenta
pequenos nichos que teriam pequenas obras de pintores amigos, entretanto
desaparecidas.
O pintor José Malhoa é natural das Caldas da Rainha e foi pioneiro do
Naturalismo em Portugal. É o autor de grandes obras da pintura portuguesa tendo
feito exposições em vários países. Gostámos de visitar esta sua casa e de
conhecer um pouco mais da sua história.
Na cave do edifício encontra-se uma coleção de jogos de xadrez originários
de várias partes do mundo, alguns muito originais.
Terminada a visita dirigimo-nos à AC e seguimos para Foz de Alge onde
ficámos no Parque de Campismo.
Passámos dois dias a descansar no parque e a disfrutar de toda a beleza
natural que ali encontramos, só é pena que o nível da água se encontre tão
baixo e que a seca se mantenha, anunciando um verão quente e seco.
Regressámos a casa com a alma plena de satisfação e ansiando já pela
próxima saída.