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quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

TERRAS RAIANAS

CAMPO MAIOR



12 de Novembro de 2023

Estávamos em Novembro, quase a meio do mês. Manhã cedo rumámos a Portalegre para visitar os filhos e netos que ali habitam e para assistir às provas dos netos mais novos no Campeonato Nacional de Kempo que decorria nesta cidade.
Jantar em família para matar saudades e pernoita em Portalegre. No dia seguinte, um domingo, partida para Campo Maior onde só  conhecíamos o que foi possível visitar quando, já há alguns anos fomos às Festas do Povo. Nessa altura, o destaque principal eram as ruas enfeitadas com lindos arranjos de flores de papel e nem nos apercebemos dos tesouros escondidos por entre os enfeites das ruas.
Num passeio pelas ruas durante a tarde de domingo, logo nos apercebemos que havia muito que ver e conhecer nesta vila e que um só dia seria muito pouco.
Deste modo, na 2ª feira de manhã iniciámos a nossa visita à descoberta de Campo Maior


 Quem pense que Campo Maior se distingue apenas pelas Festas do Povo ou pela Delta Cafés, está muito enganado. Campo Maior é uma vila repleta de história, cultura, monumentos, tradições e gente boa, um povo afável e genuíno que sabe preservar tudo isto e fazer da sua terra um marco na cultura portuguesa.
Esta vila raiana do distrito de Portalegre teria sido há muitos séculos atrás, uma povoação romana, mais tarde dominada pelos mouros durante cerca de 500 anos e reconquistada por cavaleiros cristãos de Castela. Nos finais do séc. XIII,  através do Tratado de Alcanizes assinado em Castela por D. Fernando IV , rei de Leão e Castela e D. Dinis, rei de Portugal, passa a fazer parte de Portugal, juntamente com Olivença e Ouguela. Ao longo dos tempos esta vila sofreu vários episódios bélicos que se encontram documentados na sua fortaleza e no Centro interpretativo da fortificação onde tudo nos é explicado.







Nesta imensa planície alentejana, o castelo fica situado numa pequena elevação a 299m de altitude e a 10km de Espanha. A vila cresceu "aos pés" da fortaleza e estende-se como um manto branco, envolvida por restos da muralha defensiva.
A visita ao castelo é obrigatória, tanto pela riqueza da sua história como pela beleza da paisagem que de lá se avista.

A igreja matriz é um imponente edifício com duas torres que lhe conferem grandiosidade. Foi construída de raiz no séc. XVII e reconstruída no séc. XVIII após uma explosão em 1732. O interior é grandioso e repleto de obras de arte sacra.


Interior da igreja matriz

                         

                                  


Ao lado da Igreja Matriz fica a Capela dos Ossos, uma homenagem às vítimas de uma explosão ocorrida no paiol do castelo em 1732 e que, nessa época, destruiu dois terços da vila matando cerca de 1000 pessoas. A capela é totalmente revestida de ossadas humanas, recordando também a nossa própria mortalidade.



Percorrendo as ruas da vila encontramos belos edifícios com porte senhorial e fachadas mais elaboradas, mas também as singelas moradias do povo sempre muito bem caiadas de branco e com as janelas e portas emolduradas por cores mais vivas.
Campo Maior tem orgulho na sua cultura e todos os símbolos que melhor representam a região estão expostos pelo concelho. O Lagar Museu situado no Palácio Visconde de Olivã  é um espaço que ilustra bem uma das actividades que maior destaque tiveram na região: a olivicultura e a produção de azeite.






O Palácio Visconde de Olivã possui nas traseiras uma zona ao ar livre que funcionava como espaço de lazer, zona agrícola onde cultivavam ervas aromáticas, alguns legumes e hortaliças para alimentação, o pomar, um poço e reservatório de águas, enfim, o indispensável para se valerem em tempos de conflito e cerco da povoação.


O Museu Aberto é outro espaço que nos mostra a vida dos campomaiorenses e as várias atividades económicas dos habitantes no passado.


















Visitar este museu, sobretudo para as novas gerações é uma verdadeira lição dos usos e costumes do século passado. Aqui encontramos, além das divisões de uma habitação ou de uma casa agrícola, algumas das artes e ofícios mais comuns como o barbeiro, a costureira, o consultório médico, a sala de aula, o ferreiro, o ferrador, a adega ou lagar, a mercearia, etc....
É também neste espaço que funciona a Casa das Flores criada com o objectivo de proporcionar aos visitantes um conhecimento da história, dos métodos e de todo o encanto e entrega que os habitantes da vila dedicam a este evento que é um dos maiores da cultura popular do nosso país. Não terminámos a visita sem aprendermos esta técnica e fazermos também uma flor.



No centro histórico, instalado na Capela de Nossa Senhora do Carmo, fica o Museu de Arte Sacra onde podemos apreciar uma variada coleção de 150 peças recuperadas das várias igrejas do concelho e datadas do século XV ao século XX.
     





A Igreja de S. João Batista, dedicada ao santo padroeiro da vila, foi construída a mandado de D. João V, após a tragédia de 1732, sobre as ruínas do templo do séc. XVI, destruído na explosão. 
O interior desta igreja é totalmente revestido a mármore preto e branco.

Campo Maior possui outros pontos de interesse que visitámos e nos deram a conhecer um pouco mais da sua história, tal como a casa onde nasceu e viveu Santa Beatriz da Silva, nascida em Campo Maior em 1437. Sendo descendente de famílias nobres, foi levada para a Corte como dama da infanta D. Isabel, futura rainha de Castela e Leão. 
Conta a lenda que sendo Beatriz uma jovem muito bela e simpática, despertou os ciúmes de D. Isabel que, para se livrar da sua presença, a mandou fechar num baú. Durante o cativeiro ter-lhe-á aparecido a Virgem Maria que a incumbiu de criar uma ordem religiosa para celebrar o mistério da Imaculada Conceição.
Em Toledo, Beatriz da Silva cria a ordem das Concepcionistas em 1489, que depois se espalhou por vários países. Em Campo Maior existe um convento desta ordem.
Já no séc. XX, Beatriz da Silva é beatificada pelo Papa Pio XI em 1926 e canonizada pelo Papa Paulo VI em 1976, tornando-se na primeira Santa portuguesa.
A casa onde ela viveu é um local de memórias, de fé e reflexão para muitas pessoas que a visitam.
Todos estes locais que visitámos em Campo Maior, são de entrada gratuita, até mesmo os museus, o que não é comum no resto do país.

Mosteiro da Ordem da Imaculada Conceição, um dos 3 mosteiros da ordem fundada por Santa Beatriz, existentes em Portugal


Estátua dedicada a Santa Beatriz da Silva, no jardim central

Praça da República com o pelourinho na zona central e ao fundo os Paços do Concelho.

O Pelourinho

Os Paços do Concelho

Estátua de homenagem ao Comendador Rui Nabeiro, fundador da empresa Delta Cafés e grande impulsionador do desenvolvimento desta terra onde nasceu. Fica situada no centro da vila

A estadia em Campo Maior não ficaria completa sem a visita ao Centro de Ciência do Café, o CCC. Deste modo, foi com grande interesse que nos dirigimos às instalações da Delta Cafés e visitámos o CCC, lugar de memórias que nos transporta ao passado que deu início a esta grande empresa espalhada por várias partes do mundo e nascida pelas mãos de um homem simples do povo que, tal como dizia Fernando Pessoa "Deus quer, o Homem sonha e a obra nasce", um dia sonhou, fez por isso e, com a ajuda de Deus nasceu a Obra.

É neste moderno edifício que nos é contada a história do café desde a sua origem até aos dias de hoje. De uma forma interactiva entramos neste mundo do café de forma informativa, didáctica, cultural, científica mas também lúdica onde a lenda tem o seu lugar.

"Tudo começa num pé de cafeeiro e termina numa chávena cheia de aromas"

Um mural que nos mostra a cultura do café no mundo

Cena representativa da lenda que nos conta como a planta do café foi levada para o Brasil



O primeiro carro de Rui Nabeiro, fundador da empresa



No CCC encontramos uma vasta coleção de máquinas e objetos relacionados com o café


"VAMOS TOMAR UM CAFÉ"
"O café é a segunda bebida mais consumida diariamente em todo o mundo e o segundo produto mais comercializado nas bolsas, a seguir ao petróleo e tem uma linguagem universal que é transversal a todas as sociedades"
                                                                       (Folheto CCC)



 Foram três dias muito agradáveis que passámos nesta vila alentejana que tão bem sabe acolher os seus visitantes, pena que ainda não disponha de uma Área de Serviços para as autocaravanas porém, ficámos perfeitamente instalados no parque de estacionamento junto ao estádio e ao quartel dos bombeiros, cumprindo todas as regras de um veículo estacionado.
Este estacionamento fica perto do centro e da zona histórica onde, além dos locais de visita que aqui referimos, se encontram também bons restaurantes onde podemos saborear a gastronomia alentejana e não só.

Daqui seguimos para Espanha onde visitámos Badajoz e Mérida que relataremos nos próximos posts.